Em um mundo cada vez mais conectado, como fugir das fake news? E da desinformação? Como produzir e compartilhar mensagens com responsabilidade?
“Aparecem mensagens muito absurdas, que você sabe de cara que é uma fake news. Como o limão cura a covid, ou tomar um chá todo dia em jejum vai curar o câncer ou prevenir o câncer. São coisas muito absurdas”.
Nem todo mundo consegue, como Milena Teles, de 23 anos, reconhecer o que é absurdo nas redes sociais.
Para ensinar crianças, jovens e adultos, especialistas apontam a educação midiática como caminho. E também como solução para mudar resultados como o da pesquisa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), divulgada no ano passado, que mostra que 67% dos jovens de 15 anos, aqui no Brasil, não distinguem fatos de opiniões.
Jade Percassi, pesquisadora do Sou Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), concorda com essa dificuldade:
“Para pessoa adulta já é difícil, às vezes, sem ter uma prática, sem ter uma orientação de checagem de fato, saber quando uma informação é verdadeira ou falsa, se é rumor, boato ou se ela corresponde a um fato que está sendo noticiado, imagina para crianças e adolescentes”.
O conceito de educação midiática não é novo. Surgiu em 1960 e desde lá, a preocupação tem sido sempre a mesma: a manipulação dos meios.
Patrícia Blanco, presidente do Palavra Aberta, instituto que coordena um programa de formação de professores e envolvimento da sociedade na educação midiática, fala da importância dessa formação:
“Na medida que o cidadão, o jovem, passa a saber reconhecer a informação, saber o propósito daquela informação que chega até ele, saber reconhecer a fonte, o porquê que aquela informação chegou até ele, saber fazer uma busca, saber verificar de onde veio aquela informação, adquirindo as competências para saber produzir conteúdo – de modo que ele se aproprie da tecnologia para melhorar sua autoinstrução, melhorar o seu protagonismo -, ele vai participar melhor da sociedade”.
Para o secretário João Brant, da Secretaria de Políticas Digitais do governo federal, a formação digital deve ser mais abrangente:
“Nós temos os nativos digitais, que lidam muito bem com as tecnologias, mas não necessariamente tem todos os instrumentos e repertórios para interpretar e identificar a desinformação, identificar fake news e perceber os problemas que circulam na rede. E nós temos uma população mais velha, em idade adulta ou idosa, que, muitas vezes, até por uma não-facilidade ou uma não-naturalidade de lidar com o ambiente digital, acaba sendo mais suscetível à desinformação e às fake news”.
Segundo João Brant, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) já prevê o tratamento do tema de forma transversal, e com conteúdos eletivos nas escolas.
“Nós apostamos muito na educação midiática tanto do ponto de vista formal, como informal. Tanto em parceria com o MEC, na articulação com as secretarias de Educação, quanto em relação à atividades de promoção de cursos, oficinas, conteúdos mais rápidos como chave para enfrentamento do problema da desinformação no país”.
Para o secretário, o momento é de produzir conteúdos e de formar professores.
Segundo Patrícia Blanco, começam a surgir políticas públicas em nível estadual. Como no caso de São Paulo, que abriu espaço para a formação de professores e a inclusão da temática no currículo. Em outros, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás e Ceará também já há iniciativas.
E na próxima reportagem, o algoritmo. Você pode não saber, mas é ele que diz pro mundo digital o que nos dizer.
A Radioagência Nacional apresenta uma série de quatro reportagens sobre o mundo digital, liberdade de expressão e desinformação. As matérias serão publicadas entre os dias 27 a 30 de março. Esta é a primeira reportagem da série.